Bem-vindos!
Esta pequena sou eu, a cacaua, aos 4 anos.
Cada vez que vejo esta carinha sapeca, minha alma vibra. Sempre presente, mas às vezes escondidinha, minha pequena me nutre de curiosidade, impeto e vontade de explorar o mundo externo e interno.
Venho pensando há tempos em colocar um site no ar. Compartilhar minha vida, meus dons, meus trabalhos. Falar sobre mim. Divulgar e vender meu trabalho. Mas travo ao tentar me descrever em uma bio. Por vergonha de me expor e pela dificuldade em me definir.
Mas afinal, quem sou eu ou quem já fui? Quem eu estou sendo neste ciclo de vida ou nos tantos outros? Ou ainda, como colocar em uma definição algo ou alguém mutável, flexível, inconstante, impermanente? E para que me definir, me rotular?
Me dei conta que tenho dificuldade para escolher. Muito tempo isso foi explicado, ou apaziguado, por ser libriana. Mas hoje, aos quase 60, depois de anos e anos de diversos mergulhos e terapias de todos os tipos, me dou conta que nao escolho para nao deixar nada para trás. E para não me encaixotar.
Tenho apego aos meus momentos. Sim, sou uma acumuladora. Colecionadora de anos de vida, de camadas de experiencias, de pensamentos e reflexões, de intuições e insights. De momentos felizes e de buracos escuros. E nao quero desapegar de nada disso, afinal, tudo isso sou eu.
Sinto muito tudo. Meus sentidos estão sempre em alerta máximo como antenas que não desligam jamais. E esta coleção de vida que eles me entregam, vão juntando uma bagagem imensa, mas que não pesa nada. Muito pelo contrario, é leve e me traz paz.
Me sinto um meio, uma usina de conexão e transformação, por onde estímulos entram pelos meus sentidos e numa mistura interna muito louca e aleatória, e incontrolável (pois é impossível desligar todo esse processamento), me mostram tantas e infinitas possibilidades.
À medida que os anos passam tenho mais camadas, porque o tempo... ah, o tempo... ele nao para. E cada novo estímulo tenta conversar com todo esse repertório que guardo aqui dentro. E guardo em lugarzinhos que muitas vezes nem sei bem onde estão. E de repente, de uma forma totalmente inusitada ele aparece. E a cada ano que passa, tenho mais variáveis, para testar em combinações exponenciais.
Somos todos a soma de toda a vida que vivemos. Mas para isso precisamos viver. E o que é viver? A vida pode estar em uma viagem, um livro, um acontecimento importante, mas também no cheirinho do café e dos jasmins. Nas alegrias, mas também nas dores e na falta de sentido. Nas músicas e no silencio. Na contemplação e nos sonhos. E ela, a vida, é divina e disponível para todos nós. E está por todos os lados. Porém viver é degustar tudo o que nos rodeia. Degustar faz com que nossas emoções guardem estes momentos íntimos e privados nestas camadas de vida bem dentro. E elas são únicas e intransferíveis.
Então, para que me descrever em uma bio? Por que me estancar em um momento, sendo que logo após ja chega outro? E outro, e outro.
Gosto mais de falar sobre as minhas camadas. Talvez elas consigam mostrar o que tenho guardado neste meu sótão particular e intimo e assim seja mais fácil entenderem como eu funciono e o que eu entrego pro mundo.
Aliás, nem tudo eu entrego. Muitas vezes (muitas mesmo) eu mesma duvido da velocidade das conexões e sinapses que faço aqui dentro de mim. As conexões externas, físicas, são mais fáceis de explicar. E defender. E por isso não tenho a pretenção de que me entendam, até porque eu mesma muitas vezes acho difícil. Mas também, entender o que?
Por isso, quero ser a principal testemunha de minha vida, e sem pressa e sem pausa (como já diria minha querida professora Lu Brites), vou começar a contar sobre as minhas camadas. Talvez inspirada pelos manuscritos que conheci recentemente de minha tataravó materna (honrando minha linhagem feminina) onde, nos últimos anos de vida, ela conta toda a vida vivida.
Anos atrás, saí em uma viagem sem rumo e meu grande amigo Ignacio Nabhen carinhosamente batizou de Ruta Clau. Esta ruta me conecta a um momento bem desafiador de minha vida, quando me lancei ao desconhecido e dei chance para magias acontecerem. Desde então, me agarro neste termo que virou para mim minha metáfora particular, que me conecta com a coragem, com a fé e com a vida.
De forma aleatória, e sem regras, bem como minha alma funciona, eu vou contando por aqui as minhas vivencias, trabalhos, artes, projetos, viagens e tudo o mais que faz parte da jornada da minha vida. E também ideias e projetos que ainda continuam brotando por aqui.
Bem-vindos à Ruta Clau