Neste dia das mães, também quero falar sobre ter mãe.
Nem sempre ao longo da vida uma mãe é visível, ainda mais quando são quatro filhas e todas nascidas bem pertinho umas das outras. Principalmente na época em que nasci, quando os pais eram mais distantes e disciplinadores. Ou pelo menos na minha casa era assim.
As lembranças mais marcantes para mim foram das ausências, da sensação de abandono, de falta, frequentemente compensada pela intensidade da nossa irmandade - quatro "estrabulegas" que eu amo - como éramos frequentemente chamadas pelos nossos pais. Nao sei se eu também não iria querer "sumir" de vez em quando daquele caos ininterrupto em casa. Mas a verdade é que para mim, filha mais velha, marcou esta sensação de vazio, incompletude na minha relação com a mãe. E uma sensação constante de ser responsável pelas pequenas - Marta, Nanda e Paula. Amo vocês maninhas.
Como boa Poliana (meu livro predileto na infância, assim como o Menino do Dedo Verde), sempre vejo o lado bom das coisas. Ou pelo menos tento ver para amenizar muitas vezes a dor que seria se eu nao fantasiasse um pouco a vida.
Mas eu tive mãe. E ainda tenho. E sobre isso quero falar. Sobre a benção de ter uma mãe por tantos anos, pois dá tempo de amadurecer, viver a maternidade, e repassar com ela a vida, as lacunas, os silêncios e faltas. Hoje, eu com quase 60, e ela com 82, maduras, estamos tendo tempo. Nosso tempo.
Recentemente começamos a vasculhar nossas vidas e nossa relação desde que vim ao mundo. Uma relação um tanto regulamentar e "operacional", onde nada nos faltou no cotidiano, exceto os olhares, abraços e colos cheios de fofura. As faltas por tanto tempo imperdoáveis por mim, começaram a ser entendidas, e aceitas. Antes de sermos mãe e filha, somos dois indivíduos, com todas as suas camadas. A conduta sempre tão rígida fizeram com que nosso caminho ate aqui fosse de muita distancia, mas sempre é tempo de aproximar.
Talvez tenha querido dar aos meus filhos o que me faltou, numa tentativa de tambem me preencher a medida que ia construindo esta nova relação com eles. Sou forjada com pura emoção e afeto e essa é minha essência. Não ter recebido na intensidade ou forma como esperava não me impediu de dar. Ele, o afeto, brota. Como brotou para meus filhos e que mais recentemente aprendi a brotar para mim mesma. Enfim.
Sabemos que as relações entre mães e filhas muitas vezes são imersas em competição pelo amor do pai/marido. Eu vivi isso ao inverso, sendo mae de dois meninos. Por isso, também tenho este entendimento.
Mas voltando a minha mãe, ainda bem que temos tempo. E que estamos nos dando este tempo. Tempo de conversas profundas, de limpeza dos ruídos, de reconciliação de tempos difíceis. E de abraços amorosos e de verdade.
Mesmo com todas as questões de nossa relação ela foi e sempre sera minha mae, e do alto dos seus 82 anos, continua me inspirando por sua energia e vontade de viver.
Aos poucos, e que a existência continue nos dando tempo, vamos reinventando e reconstruindo esta caminhada de mãos dadas.
Te amo mãe